RALPH AUSTEN, professor emérito de História Africana na Univ. de Chicago
E na próxima sexta-feira, dia 17 de Junho, às 09h30, terá início a segunda parte das LIÇÕES do Próximo Futuro (2011), reunindo investigadores, poetas e professores de diversas geografias (Brasil, Camarões, EUA e Portugal), em torno de reflexões sobre “Democracia e a Ética do Mutualismo” (a partir da “experiência Sul-africana”), “Qual o futuro próximo da Poesia?”, “As grandes incertezas da historiografia africanista” e “Produção, utilização e partilha do conhecimento na economia global”, todas com entrada livre!
Eis o programa detalhado para apontar já na sua agenda:
09h30
ACHILLE MBEMBE (África do Sul)
DEMOCRACIA E A ÉTICA DO MUTUALISMO. APONTAMENTOS SOBRE A EXPERIÊNCIA SUL-AFRICANA
Esta conferência irá debruçar-se sobre a forma como, ao tentar estabelecer uma nova relação entre Direito e Sociedade, por um lado, e Direito e Vida por outro lado, enquanto equipara democracia e o político com o ético e o justo, a África do Sul se tornou – ou não – o discurso vivo de uma certa maneira de “viver em comum” em vez de lado a lado. Irei argumentar que por detrás dos debates de políticas públicas sobre “estado social” e “distribuição de serviços” germinam escolhas éticas fundamentais que irão determinar a natureza da experiência democrática na África do Sul – questões como corrigir erros históricos; qual a relação entre os danos individuais e colectivos e problemas relacionados com igualdade, justiça e o direito; fome e moralidade; propriedade e partilha; ou até mesmo verdade, esperança e reconciliação. A urgência destes novos dilemas morais é tal que, para o projecto democrático mundial ter qualquer futuro, deve necessariamente assumir a forma de uma tentativa consciente de recuperar a vida e “o humano” de uma história de desperdício.
Achille Mbembe
Nasceu nos Camarões, em 1957, e é investigador em História e Política na University of the Witwatersrand (Joanesburgo, África do Sul). Faz parte da coordenação do The Johannesburg Workshop in Theory and Criticism (JWTC). Escreveu largamente sobre política, cultura e história africanas, sendo autor de múltiplas obras em francês, como “La Naissance du maquis dans le Sud-Cameroun” (1996). O seu livro “On the Postcolony” (2001) recebeu o Bill Venter/Altron Award, em 2006. A sua mais recente publicação é “Sortir de la grande nuit. Essai sur l’Afrique décolonisée” (Paris, 2010).
11h00
EUCANAÃ FERRAZ (Brasil)
DA POESIA – O FUTURO EM QUESTÃO
Qual o futuro próximo da poesia? Estaríamos, enfim, assistindo hoje à sua morte, largamente anunciada por pensadores e poetas ao longo do século XX? Há quem julgue haver sinais de que estamos, ao contrário, distantes do fim ou do esgotamento da poesia. Longe de extremos, talvez fosse possível considerar politicamente a actuação contínua e renovada dos poetas, avaliando-a como estratégia de manutenção e/ou criação de espaços viáveis para a inteligência, a subjectividade e a imaginação num mundo largamente dominado pela imagem e pela circulação tão avassaladora quanto a crítica de mercadorias. Mas os poetas nos dias de hoje acreditam nisso? Acreditar nisso não seria uma ilusão a ser descartada? Seria possível objectar que, entre outros problemas, a inserção da poesia no mercado editorial é mínima e que o lugar ocupado por ela nas escolas é acanhado. Além disso, o género, pelas suas próprias características, parece exigir bens indisponíveis para a sua fruição plena, como tempo, concentração e conhecimento de códigos específicos. Como ver alguma solidez no futuro de um género literário que parece confinado ao círculo estreito dos seus próprios produtores? Acresce uma pergunta: os novos media electrónicos são propícias à escrita, à leitura e à crítica de poesia ou, pelo contrário, acelerarão o seu fim?
Propomos um balanço do papel desempenhado pela lírica ao longo do século XX e uma reflexão sobre os seus impasses no mundo contemporâneo, com atenção especialmente voltada para o que seria o seu futuro nos contextos lusófonos.
Eucanaã Ferraz
Poeta, publicou, entre outros, os livros “Martelo” (1997), “Desassombro” (2002 - Prémio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional, para melhor livro de poesia), “Rua do mundo” (2004) e “Cinemateca” (2008). Os três últimos livros t foram editados em Portugal. Para a infância, publicou “Poemas da Lara” (2008) e “Bicho de sete cabeças e outros seres fantásticos” (2009). Organizou, entre outros, dois livros de Caetano Veloso, um de letras, “Letra só” (2003), e outro com textos em prosa, “O mundo não é chato” (2005, Famalicão: Quasi Edições, 2007); reuniu poemas e letras de canção na antologia “Veneno antimonotonia – os melhores poemas e canções contra o tédio” (2005); depois de preparar a “Poesia completa e prosa de Vinicius de Moraes” (2004), passou a coordenar a edição das obras do poeta no Brasil (Companhia das Letras) e em Portugal (Quasi Edições); publicou, na colecção Folha Explica, o volume “Vinicius de Moraes” (2006). Também é professor de literatura brasileira na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Desde 2010, é consultor de literatura do Instituto Moreira Salles, onde organiza exposições, cursos, leituras e publicações. Edita, com André Vallias, a revista on-line Errática, voltada para arte e a literatura.
14h30
MARGARIDA CHAGAS (Portugal)
PRODUÇÃO, UTILIZAÇÃO E PARTILHA DO CONHECIMENTO NA ECONOMIA GLOBAL
Uma das contradições fundamentais da chamada era da globalização consiste na oposição resiliente entre os espaços eminentemente nacionais de produção das qualificações e competências e a utilização e reprodução das mesmas em contextos supranacionais cada vez mais amplos. Desta clivagem dificilmente superável tem vindo a resultar uma desigualdade crescente na acessibilidade ao conhecimento à escala global, desigualdade que o esgotamento das formas tradicionais de regulação em economia tem ajudado a potenciar. As insuficiências dos sistemas nacionais de educação e formação articulam-se com as dificuldades crescentes de (hetero)regulação dos mercados de trabalho e dos sistemas de inovação para alimentar fluxos crescentes de trabalhadores excluídos entre as novas periferias e os novos centros do desenvolvimento mundial.
Margarida M.S. Chagas Lopes
É professora auxiliar com agregação do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), da Universidade Técnica de Lisboa, e investigadora e membro da direcção do Centro de Sociologia Económica e das Organizações (SOCIUS). É responsável pelas disciplinas de Economia da Educação, Economia da Educação e Formação e Economia dos Recursos Humanos da licenciatura em Economia e dos mestrados em Economia e Políticas Públicas e em Sociologia Económica e das Organizações do ISEG. Integra o Grupo de Peritos do Observatório do Emprego e Formação Profissional, desde 1999. Entre os trabalhos publicados, contam-se títulos sobre Economia da Educação, Regulação dos Mercados de Trabalho, Educação e I&D, (In)Sucesso Escolar no Ensino Superior, Ensino Superior e Impactos do Processo de Bolonha, entre outros.
16h00
RALPH AUSTEN (EUA)
AS GRANDES INCERTEZAS DA HISTORIOGRAFIA AFRICANISTA: EXISTE UM TEMPO ‘AFRICANO’ E PODE O SEU PASSADO ANUNCIAR O SEU FUTURO?
A minha intervenção aborda dois conjuntos de problemas ligados entre si: a periodização do passado africano e a sua relação com os futuros africanos. A primeira questão é característica de África, na medida em que as periodizações que vigoram, em grande parte, do continente costumam ser definidas em função de iniciativas de agentes externos que entram ou se aproximam de África, em vez de corresponderem a dinâmicas geradas internamente. Por exemplo, na antiga colonização do Magrebe, o comércio islâmico através do Saara e ao longo da costa do Índico, os empreendimentos marítimos europeus junto às costas do Atlântico e do Índico, o colonialismo europeu do interior do continente e uma era ’pós-colonial‘ (oposta a ’nacional‘) eram definidos não apenas pelo colonialismo, mas também por mudanças na política económica internacional (desenvolvimento ‘fordista’ seguido pelo neoliberalismo global). A principal incógnita, que liga este passado ao futuro, é o estado-nação como formação espacial e sociopolítica. O actual mapa político de África é entendido como um produto do colonialismo, mas as fronteiras herdadas só se fixaram na altura da independência, pois, mesmo durante as décadas de ocupação europeia, sofreram alterações consideráveis. Devemos prever o futuro de África em termos de forças externas contínuas (migração, ONG, novos media); nos seus próprios termos formais nacionais, tendo em conta as políticas/comunidades pré-coloniais mais débeis e menos delimitadas (mas mais autonomamente definidas); ou num parâmetro sem precedentes no passado africano?
Ralph A. Austen
É professor emérito de História Africana na Universidade de Chicago, onde antes presidiu à comissão de estudos africanos e afro-americanos e ao Programa de Relações Internacionais. Entre as suas publicações contam-se “African Economic History: Internal Development and External Dependency” (1987), “In Search of Sunjata: the Mande Oral Epic as History, Literature and Performance” (1998), “Middlemen of the Cameroon Rivers: the Duala and their Hinterland” (1998), “Trans-Saharan Africa in World History” (2010) e “Viewing African Cinema in the Twenty-First Century: Art Films and the Nollywood Video Revolution”. Neste momento, realiza uma investigação sobre o intelectual e escritor maliano Amadou Hampâté Bâ e um trabalho provisoriamente intitulado ”The Road to Postcoloniality: European Overseas Expansion, Global Capitalism and the Transformation of Africa, the Caribbean and India”.